domingo, maio 01, 2011

Escritor é quem escreve

Um amigo me diria: "escritor é quem escreve". Ele, como eu, é um 'escritor' que acabou por se embrenhar no mundo publicitário e ficando lá ao invés de escrever. A diferença básica é que ele é (acho eu) bem sucedido e tem uma carreira promissora (a custo de muito trabalho, claro). Já o meu presente não é assim tão obviamente bem sucedido (ainda que haja controvérsias) e o futuro bem incerto. Mas, claro, isso tudo é apenas um daqueles parágrafos introdutórios para me proteger do meu prórpio medo, caso este texto saia péssimo: só o estou escrevendo como exercício, praticando a escrita para quem sabe um dia me tornar de fato escritora, ou não. Isto dito, armas ao chão e dedos ao teclado...

(Aquilo que eu tenho como sendo uma boa) Receita para ser um bom escritor
1. Disciplina
Escrever pode ser algo bastante natural e mesmo necessário no dia a dia ou em momentos de crise emocional, mas para ser escritor [as in viver disso] é preciso dos 3 elementos: do sangue, do suor e das lágrimas. As lágrimas e o/ou o sangue você até pode conseguir dependendo da crise emocional ou da criatividade e tipo texto que pretende; mas o suor, meu caro, é mesmo conseguido através de uma infinidade de letrinhas digitadas umas atrás das outras, sentidas na ponta dos dedos, dia após dia, até que comece a ganhar ritmo e que escrever passe a ser absolutamente essencial, como respirar.


Para os que, como eu, acabam muitas vezes sucumbindo à preguiça, falta de tempo, um bom filme ou mesmo à insegurança quanto aos próprios textos, sugiro um mantra, repita-o incessantemente: "escritor é quem escreve, escritor é quem escreve, escritor é quem escreve..." Serve como lembrete... ou lembra que é fundamental escrever para ser escritou ou que está na hora de escolher uma nova profissão.


2. Silêncio
É preciso espaço no pensamento para que as palavras se movam na cabeça e vertam pelos dedos. O silêncio não precisa necessariamente ser sonoro, mas precisa ser aquele espaço entre um pensamento e outro, ali onde alguma coisa acontece e que precisa começar a sair em forma de texto, sendo ele planejado ou daqueles que vem como uma música que não sai da cabeça até que você a cante bem alto ou conte a alguém e a passe adiante... até que seu texto vá encantar outras mentes e você volte ao normal e comece a dar espaço a outras palavras. Para escrever, pode-se ter músicas, pessoas, ou o Rock In Rio ao lado, desde que a mente esteja quieta para todo o resto e presente apenas para escrever.

3. Liberdade
Escrever com amarras é um suplício. Pode-se ter uma opinião, um objetivo em vista, uma trama ou um tema, mas nunca amarras. Esteja livre para seu texto acontecer, ele pode ser editado, mas deixe-o acontecer primeiro, depois você volta e corta as asinhas que achar que estão além do que buscava. Os textos que acontecem, quase como imagino que seja uma psicografia, são sempre os de que mais gosto; são sempre aqueles em que pensei menos e que ornam, que não se importam com críticas, risos ou mesmo com o fracasso. São textos gloriosos e com um quê de verdade mais verdadeira que as demais. Acima de tudo, escrever liberta, não escravize o processo.

4. Tempo
Escrever qualquer coisa é fácil, forma um pensamento racionalmente organizado, digita as letras uma atrás da outra, pausadas por espaços e símbolos de pontuação, passa o corretor ortográfico (até porque, ao não se dar ao trabalho de se envolver no processo, é mais fácil errar) e voilà! em poucos minutos tem um texto gramaticalmente correto e, salvo exceções, sem nada além disso. Mas escrever no sentido mais 'poético' do termo é um processo que começa muito antes de chegar perto de um teclado (ou de um lápis e um papel). Mesmo sem perceber, os elementos do texto, da emoção que vai imprimir nele, dos argumentos, já estão todos no escritor antes de acontecer. Talvez como esteja o instinto assassino em um criminoso. Ou o distúrbio que faz roubar a um cleptomaníaco ou a transar freneticamente de um ninfo. Já está tudo lá, há que se ter tempo para que o instinto encontre oportunidade, motivo e ação para que o crime aconteça. Tenha tempo, mas não usa a falta dele como desculpa para não escrever.

5. Paixão
Ter paixão pela palavra é das mais importantes no processo de escrita, ajuda a envolver, a dar nuances e sentidos, faz sentido por si só. Mas a paixão afetiva já ajudou muitos autores a escreverem belos textos, assim como  o luto por ela. A paixão por si só, seja qual for o objeto, move um escritor (ou qualquer outro artista). Ser viceral enquanto se escreve é um trunfo. De um lugar quase atômico que saem os bons textos. Use a paixão para ir a esse lugar e trazer à luz textos vivos e intensos, sejam quais forem as temáticas e estilos. Escreva com paixão.

6. Escrever

Por mais simples que seja esse ingrediente, escreva para ser um bom escritor. Sente-se e escreva. Tendo ou não os itens acima, escreva. Sabendo sobre o que escrever ou não, escreva. Mesmo sem saber por onde começar ou onde vai chegar, escreva. Mesmo errado, escreva. No papel, computador ou na cabeça*, escreva. Escreva sempre. Afinal: escritor é quem escreve.

* muitos dos meus textos preferidos foram escritos em minha cabeça, por falta de papel, por não poder parar o carro na 23 de Maio na hora do rush, por estar no meio de uma corrida de 10KM... nada deve ser desculpa.

Nenhum comentário: